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POR QUE PRODUZIMOS TÃO POUCO?

Na última quinta-feira, numa conferência internacional sobre investimentos sustentáveis em Buenos Aires, conversava com alguns colegas norte-americanos acerca das razões da baixa capacidade brasileira de crescimento econômico em comparação aos demais países do bloco dos BRICS, e a correlação com a forte reindustrialização norte-americana na era Obama.

Lembro-me claramente de um estudo de 2014 da Fundação Getúlio Vargas (FGV) o qual demonstrava que a produtividade de um trabalhador norte-americano era 82% maior que um brasileiro, ou seja, relação de quase dois brasileiros para cada americano (ano base 2012).

LaborEm Maio de 2015, este número aumentou radicalmente, e hoje – de acordo com a consultoria internacional Conference Board – a produtividade de um trabalhador norte-americano é, em média, quatro vezes maior que a de um brasileiro.

Em níveis de produtividade média, dentre o escalão das maiores economias globais, o trabalhador brasileiro só é mais produtivo que os da Índia e China.

Outro levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontou que a produtividade da indústria nacional (entre 2001 e 2012) aumentou insignificantes 1,1%, sendo que em contrapartida no mesmo período os salários aumentaram absurdos 169%.

Mas, o quê justifica tamanha disparidade?

Alguns indicadores e fatores são relativamente simples de serem analisados.

A baixa qualidade e tempo de permanência na educação, pois o brasileiro estuda em média metade dos anos de um norte-americano, e nem sequer completa o ensino fundamental. Já nos Estados Unidos, além da maior qualidade de ensino, o norte-americano estuda, em média, pelo menos uma etapa do ensino superior.

O fator educação é apontado pela FGV como um dos problemas mais graves do Brasil no seu caminho de crescimento e aumento de padrão de vida da população.

hatsAinda, em relação a treinamento e qualificação, um trabalhador norte-americano recebe – em média – quatro vezes mais horas/treinamento por ano, de acordo com pesquisa da Fundação Dom Cabral (FDC).

Outro fator do avanço norte-americano são os investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento e Inovação em setores estratégicos para a economia, no uso de recursos, além da automação e da agregação de valor, haja visto que em empresas de trabalho intensivo a produtividade costuma ser mais baixa e o valor agregado menor.

Além disso, entraves brasileiros como a carga tributária de 35,7% sobre o PIB (um dos maiores do mundo e maior da América Latina, segundo a OCDE), as altas taxas de juros para empréstimos (13,15% a.a., segundo o BACEN), a flutuação cambial e seus riscos (Dólar = ~R$ 3,00), os altos custos trabalhistas (de aproximadamente 57%, maior carga tributária trabalhista entre 25 países do mundo, segundo estudo da UHY), e falta de infraestrutura condizente com a capacidade produtiva nacional, o lento processo de avanços e inovações dentro das fabricas, os baixos números de acordos de livre comércio com outros países, dentre outros, são gargalos que simplesmente impedem uma produção nacional mais enxuta e competitiva.

ProductivityAlém de todos esses fatores, ainda possuímos um elemento de valor intangível que dificulta enormemente nossa competitividade: a dificuldade da participação de estrangeiros no mercado de trabalho brasileiro.

Recentemente, o presidente norte-americano Barack Obama anunciou programa que concederia o Green Card àqueles empreendedores de startups que quisessem se instalar nos EUA.

Todas as grandes economias e empresas da nova economia reconhecem que a inovação é resultante da criatividade em ação, e que a criatividade é baseada principalmente na diversidade de gêneros, gerações, internacionalidades e culturas, ou seja, na multiplicidade.

Segundo dados de pesquisa de 2007 da Universidade de Duke, Califórnia, 52,4% de todas as startups do Vale do Silício (EUA) contavam com pelo menos um fundador/sócio estrangeiro.

Adicionalmente, 55% de todos os cientistas e engenheiros daquela região também eram estrangeiros.

A economia norte-americana é considerada uma das mais eficientes do mundo, e se queremos garantir desenvolvimento sustentável e uma maior competitividade da economia brasileira, devemos nos unir em torno de objetivos comuns como a redução da carga tributária e trabalhista, melhorias na educação e qualificação, mas especialmente apostar na inovação pautada em P&D, na criatividade e na multiplicidade.

Benyamin Parham Fard
Engenheiro Especialista em
Gestão da Sustentabilidade

publicado no jornal A NOTÍCIA em 02/06/2015