Arquivo da categoria: Sustentabilidade

GOOGLE E A ENERGIA SOLAR

Atualmente, é quase impossível imaginar nossa vida sem o uso da energia elétrica.

Com o uso cada vez mais intensivo pela humanidade, também são cada vez maiores as buscas por alternativas que garantam sustentabilidade a este que é, sem sombra de dúvidas, um dos principais insumos do nosso cotidiano, seja na indústria e comércio, ou mesmo nas nossas residências.

Milhares de frentes de pesquisa ao redor do planeta inovam ao buscar trazer a geração de energia o mais próximo possível da unidade consumidora, assegurando assim a tão sonhada geração distribuída e evitando o colapso dos sistemas elétricos baseados em grandes unidades geradoras.

Uma das formas de atenuar os riscos do sistema elétrico é justamente apostar na diversificação das alternativas de geração.

Segundo dados da Agencia Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a matriz energética brasileira é baseada principalmente em geração Hidroelétrica (~66%), seguida da Termoelétrica (28,4%), Eólica (4,32%), Nuclear (1,46%) e Solar Fotovoltaica (0,01%).

Estes números se justificam pela abundância de recursos hídricos no país, e também pela necessidade da nação contar com a chamada geração de energia “firme”, ou seja, aquela que está disponível a qualquer momento que haja demanda pelo uso.

Entretanto, com a inovação tecnológica e aumento do apelo global por opções energéticas de baixo impacto ambiental, eis que tomam vigor as energias tidas como alternativas (Eólica e Solar Fotovoltaica), que tem ganhado cada vez mais adeptos e, consequentemente, escala de produção e instalação.

Apesar de ser a última colocada na nossa matriz energética nacional, e possuir baixo rendimento, limitações de geração atrelada à luz do dia e condições meteorológicas, a Energia Solar Fotovoltaica (transformação da irradiação solar em eletricidade) é a alternativa que tem ganhado mais força ao redor do planeta, assim como no Brasil.

Neste cenário de irracional de aumento do custo da energia elétrica, o mercado Solar Fotovoltaico está ganhando “efervescência”, e com isso atraído cada vez mais apoiadores, como é o caso da gigante Google.

Neste mês de agosto, a Google lançou seu projeto intitulado Google Project Sunroof, uma proposta genial que é basicamente oferecer às pessoas uma visão de quanto seus telhados poderiam gerar de energia elétrica caso instalassem sistemas Solares Fotovoltaicos.

Através de imagens de satélite e simulações de irradiação solar, esta nova ferramenta (ainda disponível somente para os EUA) calcula o potencial energético de seu telhado, indica instaladores mais próximos, e permite também estimar o custo dos equipamentos e a remuneração que os mesmos trariam, fazendo um balanço financeiro que resulta no tempo em que o investimento se pagaria, e a partir de quando aquela energia sairia “de graça”.

Atualmente, com base na Resolução 482/2012 da ANEEL é permitido – a qualquer unidade consumidora no Brasil – gerar energia e devolvê-la à rede, cabendo à concessionária local (Celesc no caso de Santa Catarina) a função de realizar o balanço entre energia consumida e energia gerada, possibilitando assim redução na conta de energia.

De fato, quanto mais residências gerarem energia durante o dia (horário em que quase não há consumo residencial) e a disponibilizarem à rede elétrica, mais energia estará disponível às empresas que trabalham justamente durante o período diurno, permitindo que este balanço energético minimize o risco de colapso no sistema elétrico nacional.

O sol, astro regente de nosso sistema planetário, é também nossa fonte inesgotável de energia limpa para a vida na terra, e apostar em energia solar é apostar num futuro mais sustentável para a humanidade.

Benyamin Parham Fard
Empreendedor e Engenheiro
Especialista em Gestão da Sustentabilidade

publicado no jornal A NOTÍCIA em 25/08/2015

UBER E A NOVA ECONOMIA

Você é contra ou a favor do UBER?

Antes de responder a esta pergunta cabe uma rápida reflexão sobre o momento econômico que o mundo está vivendo agora, neste exato momento.

Com o acesso de milhões de pessoas à informação através de diferentes meios como smartphones, por exemplo, borbulham empreendedores ao redor do globo com suas soluções embarcadas em startups cheias de vigor, entusiasmo e com o ideal de mudar e melhorar o mundo.

A visão de impacto destes empreendedores aliada à criatividade, demandas urbanas e à facilidade de se criar ferramentas online está criando soluções que fogem completamente às regras do atual modelo econômico, migrando para uma economia colaborativa, digital e disruptiva.

Em termos de soluções para problemas em mobilidade urbana, não só a UBER, mas também exemplos de soluções como o WAZE, o LYFT, o TRIPDA e o MOOVIT tem quebrado todos os conceitos da velha economia pela nova economia colaborativa digital, de alto impacto social, econômico e ambiental, praticando sustentabilidade na sua essência para um público alvo ávido pelo tema: os jovens da geração Y e Z.

Tudo isso é muito fascinante e inovador, mas, porque todo esse barulho?

Bem, uma coisa que todos sabemos é que, de maneira muito geral e em termos de respostas rápidas a problemas da sociedade, os empreendedores da nova economia estão anos luz à frente dos mastodontes burocráticos que são os órgãos públicos, especialmente no Brasil.

Já o poder público, na sua “magnificente clarividência”, sabe usar extremamente bem do poder do “não” como resposta a tudo aquilo que desconhece, ou aquilo que faz seus agentes políticos “perderem votos”, como é o caso da proibição do uso do UBER em algumas cidades brasileiras.

Eis que surge um conflito de tecnologias, de conceitos, uma verdadeira revolução.

O que os políticos e respectivos órgãos públicos nem imaginam, é que as soluções inovadoras e disruptivas da nova economia “grudam como chiclete” na sociedade civil organizada, que passa – num processo irreversível – a se sentir e ser proprietária daquela nova solução, o que pode tornar a “perda política” absolutamente maior aos políticos desprovidos de visão de futuro.

Não se trata de extinguir uma profissão ou solução em detrimento de outra, mas sim de encontrar soluções que adaptem a realidade para um futuro iminente, conciliando os interesses dos diversos atores desta problemática. É este o principal papel dos políticos e órgãos públicos, agir pelo bem da coletividade.

E esse efeito não é assim “tão novo”, haja visto que a humanidade já vivenciou conflitos de semelhante proporções, na revolução industrial de 1850 por exemplo, quando as máquinas a vapor – baluartes da industria de escala – pareciam ser injustos e cruéis exterminadores de milhares de empregos artesanais daquela época, entretanto elas não só coexistiram como contribuíram para um novo momento econômico na historia da humanidade. E isto ocorre hoje com os robôs versus operários.

Não se trata da proposição de extinção, mas sim de adaptação e migração para novas formas de resolver problemas da sociedade.

Afinal, a sustentabilidade econômica, social e ambiental da nova realidade global, de novas gerações de usuários de soluções digitais, exige uma nova visão de economia, de pessoas e planeta.

Benyamin Parham Fard
Empreendedor e Engenheiro
Especialista em Gestão da Sustentabilidade

publicado no jornal A NOTÍCIA em 29/07/2015

A INOVAÇÃO NO DNA DAS EMPRESAS

Na última semana, em conversa com um colega especialista e gestor de inovação de uma grande multinacional catarinense, nos questionávamos acerca de estratégias para fazer com que a inovação esteja de fato presente no DNA das empresas, como uma constante para seu desenvolvimento sustentável.

Quando nos deparamos com indicadores alarmantes como o “Custo Brasil”, a “baixa produtividade média do trabalhador brasileiro”, ou mesmo a “crise que assola o país”, é impossível que nós – empreendedores – não busquemos imediatamente alternativas que visem aumentar a produtividade e competitividade de nossas empresas como forma de ajudar a manter toda a economia ativa.

Uma das apostas mais assertivas para que todos estes obstáculos se revertam em oportunidades é o investimento em inovação (que não necessariamente é a inovação tecnológica, mas também a inovação em processos e produtos, aberta ou fechada, de forma incremental ou mesmo radical).

E não se trata somente do investimento financeiro – haja visto que para isto existem diversas linhas de fomento em nível federal e estadual -, mas sim do investimento em gestão e governança, que é crucial para o sucesso deste complexo e frutífero processo.

Para que a tão cobiçada inovação se instale de vez na empresa é fundamental que sua filosofia faça parte da estratégia e do core business, e seja perene nos diversos níveis executivos da empresa (operacional, tático e estratégico).

A inovação deve ser encarada como uma forma de fazer diferente, melhor, mais simples e mais acessível, através de melhoria contínua, com foco em resultados e crescimento, em remuneração de capital, mas também na geração e manutenção de bons empregos e renda, ou seja, a inovação deve ser percebida pelos gestores como a alternativa para garantir a sustentabilidade econômica da empresa.

E é nas empresas que está a chave mestra para o “deslanchar” deste grande movimento pela inovação em Santa Catarina, pois são especialmente os negócios que geram as demandas às quais as inovações são aplicadas, tendo o subsequente envolvimento sinérgico das universidades e dos poderes públicos, como os elos de apoio que compõe a tríplice hélice conceitual dos ecossistemas de inovação.

Não me canso de repetir que o empreendedor brasileiro é um herói, e deve ser considerado como tal, pois não é nem um pouco fácil empreender nestas terras, entretanto quando o quesito é persistência e criatividade nossos empreendedores certamente estão dentre os campeões mundiais, e muito por isso tenho certeza de que também poderemos ser campeões no quesito inovação nas nossas empresas se nos empenharmos, especialmente em função da diversidade cultural que possuímos, e pelos desafios que nos são impostos dia após dia.

Se efetivamente quisermos assegurar o desenvolvimento econômico sustentável de nossas empresas, devemos buscar inserir a inovação no DNA de nossas empresas, não somente na sua estratégia, mas também nas ações cotidianas, permitindo que novas e melhores formas de atender nossos clientes surjam a partir de todos os níveis da empresa bem como de seus stakeholders, seja através dos colaboradores, dos fornecedores, dos clientes, ou da sociedade.

Quão melhor seja a percepção do empreendedor das necessidades do mercado e a flexibilidade em inovar em seus negócios, maior a tendência da escalabilidade de suas soluções e maiores suas chances de assegurar nichos de mercado, bem como garantir lucratividade sustentada.

Benyamin Parham Fard
Empreendedor e Engenheiro
Especialista em Gestão da Sustentabilidade

publicado no jornal A NOTÍCIA em 14/07/2015

Papa Francisco e a Sustentabilidade

O posicionamento de um líder, seja este político ou espiritual, sempre gera reações favoráveis e contrárias. Isto é da natureza humana. Entretanto muito há de se comentar positivamente acerca da Encíclica Laudato si – Sobre o cuidado da casa comum redigida pelo próprio Papa Francisco acerca da realidade humana que nosso planeta vive.

Do latim encyclios (que significa circular, aquilo que abraça tudo), esta nova encíclica começa com a reprodução de um trecho de um texto de São Francisco de Assis, o que traz forte conotação do enlace proposto entre religião e ciência.

Nele, o Papa faz refletir sobre a poluição e mudanças climáticas (poluição, resíduos e cultura do descarte, além do clima como bem comum), a questão da água, a perda de biodiversidade, a deterioração da qualidade de vida humana e degradação social, a desigualdade planetária, a fraqueza das reações do homem e a diversidade de opiniões.

Apoiado por diversas entidades e lideres como Secretário-geral da ONU Ban Ki-moon, além de entusiastas pelo desenvolvimento sustentável, o Papa foi duramente criticado por algumas lideranças globais como Jeb Bush, terceiro candidato da família Bush a almejar a cadeira de presidente dos EUA.Pope-SG

Ao buscar compreender os diversos contextos do tema nos deparamos com críticas puramente retóricas, apontamentos preconceituosos, a defesa do laicismo do tema, a histórica distancia entre ciência e religião, etc., mas nada disto resolve os problemas insustentáveis que se agravam a cada dia nos quatro cantos do planeta.

Ora, não se trata apenas de um líder religioso atentando para este urgente problema humano, mas sim de toda uma classe de lideres globais nos chamando a atenção e especialmente agora “nos chamando à ação”.

Existe na atual sociedade global multi conectada uma enormidade de disparidades (econômicas, sociais e ambientais) que passam desapercebidas, simplesmente por “não temos mais tempo para pensarmos sobre o que estamos fazendo”, mas cujos efeitos maléficos guiam o homem num caminho constante de perda de qualidade de vida, de paz interior e de um “futuro” para nossos filhos.

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Não só por proteger o planeta, mas também por “unir a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral” nas palavras do Papa, se faz urgente repensar agora o futuro da humanidade.

Na visão do Papa, é inseparável a preocupação com a natureza, a justiça para com os pobres, o empenho na sociedade e a paz interior.

De forma contundente, Papa Francisco coloca o homem no centro da crise ecológica, abordando a interelação da tecnologia da criatividade e poder, a globalização do paradigma tecnocrático, a crise do antropocentrismo moderno e suas consequências, o relativismo prático, a necessidade de defender o trabalho e a inovação biológica a partir da pesquisa.

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Ainda defende uma “Ecologia Integral”, baseada na ecologia ambiental, econômica e social, na ecologia cultural, na ecologia da vida cotidiana, no princípio do bem comum e na justiça intergeracional.

Por fim, o Papa traz algumas linhas de orientação e ação como o diálogo sobre o meio ambiente na política internacional, o diálogo para novas políticas nacionais e locais, o diálogo e transparência nos processos decisórios, a política e economia em diálogo para a plenitude humana e as religiões no diálogo com as ciências.

Os efeitos deste inovador gesto do Papa já refletem nas ações da ONU com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável que serão adotados no segundo semestre deste ano, bem como deverão afetar contundentemente o novo acordo do clima que será firmado na COP 21 em Paris, em dezembro.

A encíclica papal conclama não apenas os católicos, mas todas as pessoas do mundo, pois para o Papa a ciência e religião concordam que o tempo de agir é agora. Mas, como deveremos agir, ou – nas sábias palavras do próprio Papa -, como devermos “apontar para outro estilo de vida”? Bem, isso dependerá da vontade de cada um em deixar como legado um mundo melhor e mais sustentável para as próximas gerações.

Benyamin Parham Fard
Empreendedor e Engenheiro
Especialista em Gestão da Sustentabilidade

publicado no jornal A NOTÍCIA em 30/06/2015

FIFA, CORRUPÇÃO E VOCÊ

Para quem vive no Brasil, e é fã de futebol, talvez a corrupção da FIFA deflagrada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos não seja tão novidade assim.

Muitos amantes do futebol sempre desconfiaram seriamente do jogo de cartas marcadas deste esporte tão importante para a integração mundial dos povos.bolamurcha

Quase que como numa religião, quanto amor, bons sentimentos, lições, e aprendizados o futebol proporciona diariamente aos seus bilhões de seguidores em todo o mundo? E todos aqueles que vivem do esporte, e pelo esporte?

Os nove dirigentes e/ou ex-dirigentes, além dos cinco parceiros da FIFA acusados de associação criminosa e corrupção nos últimos 24 anos, envolvendo subornos no valor de 151 milhões de dólares, são apenas a ponta do iceberg.

Esse erro grave de alguns, coloca em xeque toda uma história que, eventualmente, pode ter sido escrita com ética e licitude.

A credibilidade mundial associada à entidade mãe do futebol foi construída ao longo de mais de um século, e denegrida gravemente em pouco menos de um mês, causando a perda de contratos, patrocinadores e o repudio do mercado global.

Neste momento, devemos nos perguntar sobre a corresponsabilidade das grandes marcas que historicamente patrocinaram a FIFA. Será que seu dinheiro não foi usado para corromper? E agora? Como estes gigantes mundiais irão lidar com essa mancha em suas logomarcas?

Em sustentabilidade, um dos princípios praticados é o da adicionalidade, cuja principal resultante é aquilo que fica de bom para o planeta, tendo-se em vista o cumprimento obrigatório daquilo que é comum a todos no planeta (obrigações ambientais, sociais e econômicas).

Na minha experiência como profissional da área de sustentabilidade vi, ao longo da última década, inúmeras empresas e entidades atingirem o ápice da regularidade e da ética, sendo admiradas e respeitadas, gerando e agregando – através de suas boas práticas – valor social, ambiental e econômico em todos os quatro cantos do planeta.

Entretanto vi, também, estas mesmas empresas e entidades sucumbirem publicamente (e até ruírem) ao se envolverem e/ou serem pegos em casos corrupção, flagrantes de trabalho escravo ou infantil, agressões ao meio ambiente, etc.

Essas empresas e entidades praticam aquilo que em meio ambiente chamamos de “greenwashing”, e o mercado global jovem, crítico e conectado pelas mídias sociais não perdoa esses deslizes, multiplicando seus malfeitos de forma exponencial e literalmente à velocidade da luz.

Tal qual uma ordem religiosa que abusa da fé de seus seguidores para se enriquecer, a FIFA usou de uma paixão mundial para corromper e enriquecer aos “amigos do rei”, ou seja, aqueles que estavam próximos ao clero da entidade, sejam executivos, políticos ou mesmo empresários.

Esta é uma cartilha conhecida, que se repete na história década após década, século após século, mas qual aprendizado a humanidade ultraconectada do século 21 pode tirar de tudo isso?

Não devemos ser generalistas, tampouco demonizar o belíssimo trabalho histórico feito por entidades como a FIFA, porque todos estamos sujeitos a falhas e erros, entretanto devemos ser criteriosos ao patrocinarmos uma ação de marketing ou mesmo consumirmos produtos e serviços de entidades globais ou locais, prestando atenção aos seus valores morais e éticos como um dos cernes de nossa decisão.

Para uma empresa patrocinadora, é fundamental saber à quem associar sua marca, pois – como no caso da FIFA – indiretamente o resultado tangível pode ser desastroso.

Ao ignorarmos as regras com as quais nossos fornecedores “jogam o jogo”, deixamos de praticar sustentabilidade, e podemos nos considerar partícipes dos seus esquemas ilícitos e co patrocinadores da corrupção, uma vez que os financiamos direta e/ou indiretamente com nosso apoio “ingênuo”.

Benyamin Parham Fard
Empreendedor e Engenheiro
Especialista em Gestão da Sustentabilidade

publicado no jornal A NOTÍCIA em 16/06/2015

POR QUE PRODUZIMOS TÃO POUCO?

Na última quinta-feira, numa conferência internacional sobre investimentos sustentáveis em Buenos Aires, conversava com alguns colegas norte-americanos acerca das razões da baixa capacidade brasileira de crescimento econômico em comparação aos demais países do bloco dos BRICS, e a correlação com a forte reindustrialização norte-americana na era Obama.

Lembro-me claramente de um estudo de 2014 da Fundação Getúlio Vargas (FGV) o qual demonstrava que a produtividade de um trabalhador norte-americano era 82% maior que um brasileiro, ou seja, relação de quase dois brasileiros para cada americano (ano base 2012).

LaborEm Maio de 2015, este número aumentou radicalmente, e hoje – de acordo com a consultoria internacional Conference Board – a produtividade de um trabalhador norte-americano é, em média, quatro vezes maior que a de um brasileiro.

Em níveis de produtividade média, dentre o escalão das maiores economias globais, o trabalhador brasileiro só é mais produtivo que os da Índia e China.

Outro levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontou que a produtividade da indústria nacional (entre 2001 e 2012) aumentou insignificantes 1,1%, sendo que em contrapartida no mesmo período os salários aumentaram absurdos 169%.

Mas, o quê justifica tamanha disparidade?

Alguns indicadores e fatores são relativamente simples de serem analisados.

A baixa qualidade e tempo de permanência na educação, pois o brasileiro estuda em média metade dos anos de um norte-americano, e nem sequer completa o ensino fundamental. Já nos Estados Unidos, além da maior qualidade de ensino, o norte-americano estuda, em média, pelo menos uma etapa do ensino superior.

O fator educação é apontado pela FGV como um dos problemas mais graves do Brasil no seu caminho de crescimento e aumento de padrão de vida da população.

hatsAinda, em relação a treinamento e qualificação, um trabalhador norte-americano recebe – em média – quatro vezes mais horas/treinamento por ano, de acordo com pesquisa da Fundação Dom Cabral (FDC).

Outro fator do avanço norte-americano são os investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento e Inovação em setores estratégicos para a economia, no uso de recursos, além da automação e da agregação de valor, haja visto que em empresas de trabalho intensivo a produtividade costuma ser mais baixa e o valor agregado menor.

Além disso, entraves brasileiros como a carga tributária de 35,7% sobre o PIB (um dos maiores do mundo e maior da América Latina, segundo a OCDE), as altas taxas de juros para empréstimos (13,15% a.a., segundo o BACEN), a flutuação cambial e seus riscos (Dólar = ~R$ 3,00), os altos custos trabalhistas (de aproximadamente 57%, maior carga tributária trabalhista entre 25 países do mundo, segundo estudo da UHY), e falta de infraestrutura condizente com a capacidade produtiva nacional, o lento processo de avanços e inovações dentro das fabricas, os baixos números de acordos de livre comércio com outros países, dentre outros, são gargalos que simplesmente impedem uma produção nacional mais enxuta e competitiva.

ProductivityAlém de todos esses fatores, ainda possuímos um elemento de valor intangível que dificulta enormemente nossa competitividade: a dificuldade da participação de estrangeiros no mercado de trabalho brasileiro.

Recentemente, o presidente norte-americano Barack Obama anunciou programa que concederia o Green Card àqueles empreendedores de startups que quisessem se instalar nos EUA.

Todas as grandes economias e empresas da nova economia reconhecem que a inovação é resultante da criatividade em ação, e que a criatividade é baseada principalmente na diversidade de gêneros, gerações, internacionalidades e culturas, ou seja, na multiplicidade.

Segundo dados de pesquisa de 2007 da Universidade de Duke, Califórnia, 52,4% de todas as startups do Vale do Silício (EUA) contavam com pelo menos um fundador/sócio estrangeiro.

Adicionalmente, 55% de todos os cientistas e engenheiros daquela região também eram estrangeiros.

A economia norte-americana é considerada uma das mais eficientes do mundo, e se queremos garantir desenvolvimento sustentável e uma maior competitividade da economia brasileira, devemos nos unir em torno de objetivos comuns como a redução da carga tributária e trabalhista, melhorias na educação e qualificação, mas especialmente apostar na inovação pautada em P&D, na criatividade e na multiplicidade.

Benyamin Parham Fard
Engenheiro Especialista em
Gestão da Sustentabilidade

publicado no jornal A NOTÍCIA em 02/06/2015

REVOLUÇÃO ENERGÉTICA

As três grandes revoluções industriais estiveram especialmente baseadas em um mesmo elemento comum: a energia.

Seja pela força motriz ou pelas telecomunicações, o manejo energético tem sido o grande responsável pelos saltos evolutivos que temos presenciado.

Entretanto, apesar de terem sido benéficas à humanidade em vários aspectos, o que percebemos é que estas revoluções tem ligação direta com as crescentes crises globais tais como os impactos devastadores das mudanças climáticas, a degradação do nosso ambiente natural e as perdas nos sistemas financeiros.

É difícil negarmos que nossa evolução humana dos últimos dois séculos baseada na revolução industrial tem falhado por se mostrar insustentável.

Chegou o momento de reescrevermos nosso futuro comum com soluções que garantam o acesso universal a energia aliado a um clima estável, afastando a humanidade do atual sistema energético altamente poluente baseado em combustíveis fósseis.

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O movimento “100% Energia Renovável” tem ganhado força em todo o mundo, onde governos, nações, empresas, comunidades e os próprios cidadãos tem buscado autonomia energética através de fontes renováveis e limpas.

Cidades como Vancouver, Georgetown e Coffs Harbour são apenas algumas das recentes adições ao movimento global crescente, que tiveram como inspiração as cidades pioneiras de Copenhagen, San Francisco, Sydney, e Frankfurt.

Já no campo da inovação social, um bom exemplo é de engenheiros do MIT que começaram a implantar um sistema baseado em energia solar fotovoltaica para dessalinizar e levar água potável às zonas rurais da Índia.

Empresas globais como Facebook, Google, Ikea e Apple também buscam essa transformação em direção a autonomia energética renovável por razões comerciais.

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Outro exemplo é dado pela Unilever, que atingiu um marco histórico de redução emissões da ordem de 1 milhão de toneladas de CO2 desde 2008 em sua cadeia de produção, com base na transição energética e alterações no modelo de consumo energético, que resultou também em significativa redução de custos (aprox. R$ 1 Bilhão).

Nossa geração se tornou não só testemunha de uma crise sem precedentes, mas também coadjuvante de uma transformação sem precedentes, pois as fontes de energias renováveis ​​estão ganhando a corrida contra as fontes fósseis, e a questão não é mais SE o mundo será totalmente alimentado com energia renovável, mas sim QUANDO.

Cabe a cada um de nós fazermos essa transição a nossa maneira, optando por energias renováveis e pelo consumo energético mais eficiente.

Cabe ainda refletirmos sobre aquilo que não estamos fazendo por causa do medo do fracasso, por estarmos fazendo o diferente. Precisamos inspirar a mudança através da liderança e pelo bom exemplo.

Benyamin Parham Fard
Engenheiro Especialista em
Gestão da Sustentabilidade

publicado no jornal A NOTÍCIA em 19/05/2015

A NOVA ENERGIA DE TESLA

Quando Elon Musk, CEO da Tesla Motors, anunciou na no último dia 30 de Abril seu novo – e surpreendente – projeto, o Tesla Powerwall, certamente este trouxe um novo olhar do mundo para a forma como armazenamos e utilizamos energia.

O lançamento de Musk tem, na realidade, muito daquilo que era um dos sonhos de Nikola Tesla, inventor americano de origem croata do século XIX, considerado um dos pais da Segunda Revolução Industrial.

Tesla teve contribuições revolucionárias nas áreas do electromagnetismo, potência elétrica e da corrente alternada, além de ser considerado o inventor do rádio, e estes diversos legados conferiram a seu sobrenome a unidade do Sistema Internacional de Unidades (SI) “B”, que mede a densidade do fluxo magnético ou a indução eletromagnética.

Nikola Tesla sonhava em levar a energia para todo o mundo, e é este o espírito do novo projeto de Musk, através de sua empresa que não coincidentemente carrega o honroso sobrenome de Nikola.

O conceito do Tesla Powerwall é trazer autonomia energética a residências e empresas que busquem a energia renovável como forma de reduzir o consumo de combustíveis fósseis no planeta, através da micro e mini geração de energia distribuída autogeração solar ou eólica.

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Na prática, o conceito de Musk segue a filosofia de Steve Jobs, que faz os consumidores em escala global enxergarem valor em seus produtos, e com isso Musk está transformando o ecossistema energético das cidades através da autogeração energética aliada a acumuladores de energia “amigáveis”.

De fato, para que haja uma verdadeira revolução energética global, é fundamental que cada consumidor de energia seja minimamente autossuficiente na geração de sua energia, permitindo que a energia de larga escala (Hidrelétricas e Termoelétricas, por exemplo) seja utilizada para fins mais nobres, como o uso industrial.

images (1)Outra vantagem desta nova realidade é que a micro e mini geração distribuída (residências autossuficientes, por exemplo) com armazenamento local reduzem significativamente as perdas com transmissão e distribuição para aquele consumidor, barateando e simplificando o sistema energético das cidades.

Nikola Tesla morreu pobre aos 86 anos, pois sua mente brilhante estava muito a frente de seu tempo e a tecnologia global não conseguira acompanha-lo em realizações, entretanto o seu legado para a humanidade perdura, e certamente através de empreendedores como Elon Musk e outros tantos entusiastas haveremos de alcançar não só a tão sonhada autossuficiência energética, mas também outras inovações como a transmissão de energia sem fio em larga escala (witricity), como também idealizado por Nikola.

Um futuro sustentável depende de homens de visão tanto para a concepção quanto para a realização, e de sensibilidade global para o bem da humanidade.

Benyamin Parham Fard
Engenheiro Especialista em
Gestão da Sustentabilidade

publicado no jornal A NOTÍCIA em 05/05/2015

SUSTENTABILIDADE DISRUPTIVA

O termo “disruptivo” é aplicado há várias décadas quando da referência à inovação, em especial quando uma nova tecnologia, produto ou serviço vem ao mercado para derrubar uma tecnologia dominante, e revolucionar o status quo.

Entretanto, a ligação desta inovação revolucionaria com a sustentabilidade – apesar de soarem como temas desconexos num primeiro momento – tem disruptive_innovationtotal sentido, pois basta observarmos o modus operandi de desenvolvimento da sociedade global pós-revolução industrial, e perceberemos que o mesmo tem se demonstrado insustentável, especialmente ao longo das últimas três décadas com os diversos apelos globais e as diversas comprovações cientificas de esgotamento de alguns recursos naturais e extinção de espécies,  da exclusão social, dos riscos macro econômicos, e em especial o aquecimento global, evento cíclico na história do nosso planeta que tem sido comprovadamente acelerado pelas ações humanas.

Novos negócios borbulham ao redor do planeta nas mãos de jovens empreendedores das gerações Y e Z, especialmente na forma de start-ups e spin-offs, com grande apelo disruptivo à sustentabilidade, pois praticamente toda e qualquer solução voltada ao mercado da sustentabilidade possui escalabilidade global, com públicos alvos tremendamente inexplorados e ávidos pelo novo.

Estes mesmos jovens, engajados, já estão cansados do óbvio, do apelo sustentável para venda e pela venda, do green washing, e sabem das oportunidades de mercado inexplorados pelos gigantes econômicos, que por muitas vezes não possuem sua sensibilidade de mercado.

Estas novas oportunidades de negócios surgem sob a égide de novos mecanismos e métodos revolucionários – muito mais eficientes que os habituais – no uso do capital humano, ambiental e econômico.

Seja pelo uso de redes sociais para o voluntariado do bem (Social Good), seja pelas oportunidades de microfinanças idealizadas pelo Nobel da Paz Muhammad Yunus, ouWater-Filtration-Straw mesmo pelo crowdfunding para a viabilização de purificadores de água portáteis para regiões do planeta carentes de saneamento, o engajamento pela sustentabilidade disruptiva dos novos empreendedores é nítida.

Aos jovens empreendedores o “fazer sentido” e “fazer parte” de algo revolucionário é imprescindível, e isto é percebido especialmente em apresentações para captação de investidores anjo (pitch’s), por exemplo, onde o termo “ajudar a mudar o mundo” acaba sendo a frase finalística destes empreendedores persuasivos.

A inovação desempenha (e ainda desempenhará) papel-chave na performance de novos empreendedores que almejam mudar o mundo, pois estes habitualmente colocam em xeque o status quo, ameaçando-o, e ao fazê-lo induzem o mundo a novas oportunidades.

E enganam-se aqueles que pensam que este é apenas um nicho de mercado, pois este verdadeiramente é “o mercado” do século 21, e nestes meus anos de experiência posso afirmar que, cada vez mais, produtos e serviços que não estejam alinhados com a sustentabilidade, e em especial que não estejam buscando nela a inovação disruptiva não terão escalabilidade global, estarão na contramão da decisão de compra coletiva, e estarão fadados a alguns poucos nichos dispersos.

Benyamin Parham Fard
Engenheiro Especialista em
Gestão da Sustentabilidade

publicado no jornal A NOTÍCIA em 21/04/2015